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Descolamento de Retina: Sintomas, Diagnóstico e Procedimentos Mais Eficazes Para Saúde Ocular do Paciente

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • 28 de jul.
  • 6 min de leitura



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O descolamento de retina representa uma das emergências oftalmológicas mais críticas, caracterizada pela separação das camadas neurossensoriais da retina do epitélio pigmentar subjacente.


Esta condição, que pode resultar em perda visual irreversível se não tratada adequadamente, afeta aproximadamente 1 em cada 10.000 pessoas anualmente.


O presente artigo revisa os aspectos fundamentais do descolamento retiniano, abordando sua fisiopatologia, manifestações clínicas, métodos diagnósticos contemporâneos e as modalidades terapêuticas mais eficazes disponíveis na prática oftalmológica atual.


CONTEXTUALIZAÇÃO


A retina, estrutura neurossensorial complexa responsável pela conversão da luz em impulsos nervosos, mantém sua função através de uma íntima relação anatômica com o epitélio pigmentar retiniano (EPR).


Quando essa relação é comprometida, ocorre o descolamento de retina, uma condição que pode evoluir rapidamente para cegueira permanente caso não seja diagnosticada e tratada precocemente.


A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos, das apresentações clínicas variadas e das opções terapêuticas disponíveis é fundamental para o oftalmologista moderno, permitindo uma abordagem sistemática e eficaz desta emergência ocular.


Fisiopatologia e Classificação


Anatomia Normal da Interface Retina-EPR


Em condições fisiológicas, a retina neurossensorial mantém-se aderida ao EPR através de forças de adesão ativas e passivas.


As bombas iônicas do EPR, particularmente a Na+/K+-ATPase, criam um gradiente osmótico que favorece a adesão retiniana.


Adicionalmente, a matriz interphotoreceptor e as interdigitações entre os segmentos externos dos fotorreceptores e as microvilosidades do EPR contribuem para esta adesão.


Classificação Etiológica


O descolamento retiniano classifica-se em três categorias principais:


Descolamento Regmatógeno:


Representa 85-90% dos casos, caracterizado pela presença de uma ou múltiplas roturas retinianas que permitem a passagem do humor vítreo para o espaço sub-retiniano. As roturas podem ser classificadas como:


- Roturas em ferradura: Geralmente associadas à tração vítreo-retiniana

- Roturas atróficas: Secundárias à degeneração retiniana periférica

- Roturas gigantes: Superiores a 90 graus de circunferência


Descolamento Tracional:


Resulta da contração de membranas fibrovasculares que exercem tração mecânica sobre a retina, comumente observado em casos de retinopatia diabética proliferativa avançada e vitreorretinopatia proliferativa.


Descolamento Exsudativo:


Ocorre por acúmulo de fluido sub-retiniano na ausência de roturas retinianas, frequentemente associado a processos inflamatórios, vasculares ou neoplásicos que comprometem a barreira hemato-retiniana externa.


Manifestações Clínicas


Sintomas Característicos


A apresentação clínica do descolamento retiniano varia conforme a localização, extensão e tipo de descolamento:


Fotopsias: Percepção de flashes luminosos, especialmente evidentes em ambientes com pouca luminosidade, resultantes da estimulação mecânica dos fotorreceptores durante a tração vítreo-retiniana.


Miodesopsias: Aparecimento súbito de "moscas volantes" ou corpos flutuantes no campo visual, que podem indicar hemorragia vítrea associada à formação de roturas retinianas.


Defeito de Campo Visual: Descrito pelos pacientes como uma "cortina" ou "sombra" que progride no campo visual, correspondendo à área de retina descolada. A progressão típica ocorre de periférica para central.


Redução da Acuidade Visual: Manifesta-se quando o descolamento envolve a mácula, resultando em importante comprometimento da visão central.


Metamorfopsia: Distorção das imagens, particularmente perceptível quando há envolvimento macular ou paramacular.


Fatores de Risco


Diversos fatores predispõem ao desenvolvimento de descolamento retiniano:


Fatores Demográficos: Idade avançada (pico entre 40-70 anos), sexo masculino e história familiar positiva.


Condições Oculares: Miopia elevada (>6 dioptrias), cirurgia prévia de catarata, trauma ocular, degenerações retinianas periféricas e descolamento prévio no olho contralateral.


Condições Sistêmicas: Diabetes mellitus, síndrome de Marfan e outras colagenoses.


Métodos Diagnósticos


Avaliação Clínica Inicial


O diagnóstico do descolamento retiniano baseia-se primariamente no exame oftalmológico detalhado:


Biomicroscopia: Avaliação do segmento anterior para identificar células inflamatórias, alterações cristalinianas ou complicações associadas.


Oftalmoscopia Indireta: Método gold standard para visualização da retina periférica, permitindo identificação das roturas retinianas e determinação da extensão do descolamento.


Biomicroscopia de Fundo: Utilizando lentes de contato específicas, permite avaliação detalhada da mácula e caracterização das roturas retinianas.


Métodos de Imagem Complementares


Tomografia de Coerência Óptica (OCT): Fornece informações anatômicas precisas sobre o envolvimento macular, espessura do fluido sub-retiniano e integridade das camadas retinianas.


Ultrassonografia Ocular: Especialmente útil quando opacidades dos meios impedem a visualização direta da retina, permitindo identificar o descolamento e possíveis massas intraoculares.


Angiografia Fluoresceínica: Indicada em casos de descolamento exsudativo para identificar a fonte de extravasamento vascular.


Autofluorescência: Pode revelar alterações do EPR e auxiliar na identificação de roturas atróficas.


Modalidades Terapêuticas


Princípios Gerais do Tratamento


O objetivo primário do tratamento é reposicionar a retina neurossensorial em contato com o EPR e selar as roturas retinianas, prevenindo recidivas.


A escolha da técnica cirúrgica depende de diversos fatores, incluindo tipo e localização das roturas, extensão do descolamento, status do vítreo e condições oculares associadas.


Técnicas Cirúrgicas Principais


Retinopexia Pneumática


Procedimento ambulatorial indicado para roturas únicas na metade superior da retina, associadas a descolamento limitado.


Consiste na injeção intravítrea de gás expansível (SF6 ou C3F8) seguida de posicionamento específico da cabeça. As taxas de sucesso anatômico variam entre 70-85% em casos selecionados.


Indicações: Roturas únicas ou múltiplas próximas, localizadas entre 8 e 4 horas, descolamento recente (<2 semanas) e boa colaboração do paciente para posicionamento.


Limitações: Eficácia reduzida em roturas inferiores, descolamentos extensos e casos com vitreorretinopatia proliferativa.


Cerclagem Escleral


Técnica extraocular que envolve a colocação de elementos (silicone ou esponja) na superfície escleral para criar indentação localizada ou circunferencial.


A cerclagem reduz a tração vítreo-retiniana e aproxima a esclera da retina descolada.


Indicações: Múltiplas roturas, roturas inferiores, descolamentos em pacientes jovens e casos com componente tracional significativo.


Vantagens: Preservação da anatomia intraocular, baixa incidência de complicações graves e eficácia comprovada a longo prazo.


Vitrectomia Via Pars Plana


Procedimento intraocular que permite remoção do vítreo, alívio da tração vítreo-retiniana e reposicionamento direto da retina. Utiliza tamponamento interno com gás ou óleo de silicone.


Indicações: Roturas gigantes, descolamentos recidivantes, vitreorretinopatia proliferativa, descolamentos traumáticos e casos com opacidades vítreas significativas.


Técnicas Avançadas: Sistemas de vitrectomia de pequeno calibre (23, 25 e 27 gauge) proporcionam menor trauma cirúrgico e recuperação mais rápida.


Técnicas Adjuvantes


Fotocoagulação a Laser


Aplicada ao redor das roturas retinianas para criar aderência cório-retiniana e prevenir progressão do descolamento.


Pode ser utilizada isoladamente em roturas assintomáticas ou como complemento às técnicas cirúrgicas principais.


Crioterapia


Alternativa à fotocoagulação, especialmente útil em casos com opacidades dos meios ou roturas muito anteriores. Cria adesão cório-retiniana através de necrose coagulativa controlada.


Resultados e Prognóstico


Taxas de Sucesso Anatômico


As taxas de reposicionamento retiniano variam conforme a técnica empregada:

- Retinopexia pneumática: 70-85% (casos selecionados)

- Cerclagem escleral: 85-95%

- Vitrectomia via pars plana: 90-95%


Prognóstico Visual


O prognóstico visual depende fundamentalmente de fatores pré-operatórios:


Envolvimento Macular: Pacientes com mácula aplicada mantêm melhor acuidade visual pós-operatória. O comprometimento macular por mais de 7 dias geralmente resulta em limitação visual permanente.


Duração dos Sintomas: Intervenção precoce (idealmente nas primeiras 24-48 horas) otimiza os resultados funcionais.


Extensão do Descolamento: Descolamentos limitados apresentam melhor prognóstico visual comparados aos casos extensos.


Complicações


Complicações Intraoperatórias: Hemorragias, perfuração escleral (cerclagem), roturas iatrogênicas e hipertensão ocular aguda.


Complicações Pós-operatórias: Vitreorretinopatia proliferativa (5-10% dos casos), catarata (especialmente após vitrectomia com gás), alterações refracionais e recidiva do descolamento.


Seguimento e Cuidados Pós-operatórios


Protocolo de Acompanhamento


O seguimento pós-operatório deve ser rigoroso e individualizado:


Período Imediato (1-7 dias): Avaliação diária para monitorar posicionamento retiniano, pressão intraocular e sinais de complicações precoces.


Período Intermediário (1-4 semanas): Controles semanais para acompanhar a reabsorção do fluido sub-retiniano e evolução da cicatrização.


Seguimento a Longo Prazo: Avaliações trimestrais no primeiro ano, com particular atenção aos sinais de vitreorretinopatia proliferativa e exame cuidadoso do olho contralateral.


Orientações ao Paciente


Posicionamento: Fundamental em casos tratados com tamponamento gasoso, devendo ser mantido conforme orientação específica para cada caso.


Sinais de Alerta: Orientação sobre sintomas que requerem avaliação oftalmológica urgente, incluindo redução súbita da visão, aumento de fotopsias ou alterações do campo visual.


Restrições de Atividade: Limitação de atividades físicas intensas e viagens aéreas em casos com tamponamento gasoso.


Perspectivas Futuras e Inovações


Avanços Tecnológicos


Sistemas de Visualização: Microscópios com filtros específicos e sistemas de realidade aumentada melhoram a visualização intraoperatória das estruturas retinianas.


Instrumentos Cirúrgicos: Desenvolvimento de instrumentos de menor calibre e maior precisão, incluindo sistemas robóticos para microcirurgia retiniana.


Materiais de Tamponamento: Pesquisa de novos agentes tamponantes com propriedades físico-químicas otimizadas e menor toxicidade.


Terapias Emergentes


Terapia Gênica: Investigação de vetores virais para modulação da expressão gênica e prevenção da vitreorretinopatia proliferativa.


Medicina Regenerativa: Uso de células-tronco e fatores de crescimento para otimizar a recuperação funcional pós-operatória.


Farmacoterapia Intravítrea: Desenvolvimento de medicamentos específicos para prevenção de complicações e melhora dos resultados funcionais.


Conclusões


O descolamento de retina permanece como uma das principais causas de cegueira evitável na prática oftalmológica contemporânea.


O sucesso terapêutico depende fundamentalmente do diagnóstico precoce, seleção adequada da técnica cirúrgica e execução competente do procedimento escolhido.


A evolução das técnicas cirúrgicas, particularmente o refinamento da vitrectomia via pars plana e o desenvolvimento de sistemas de menor calibre, tem proporcionado melhores resultados anatômicos e funcionais.


Contudo, a prevenção através da identificação e tratamento das lesões predisponentes mantém-se como estratégia fundamental na redução da incidência desta condição.


O oftalmologista moderno deve manter-se atualizado quanto aos avanços diagnósticos e terapêuticos, sempre priorizando a individualização do tratamento conforme as características específicas de cada caso.

A educação continuada e o treinamento em técnicas microcirúrgicas são essenciais para otimização dos resultados e redução das complicações.


A colaboração multidisciplinar, incluindo retinólogos experientes, anestesistas especializados e equipe de enfermagem treinada, constitui elemento fundamental para o sucesso terapêutico.


Finalmente, a educação do paciente quanto aos fatores de risco, sintomas de alerta e importância do seguimento regular representa componente indispensável na prevenção e manejo adequado do descolamento retiniano.



 
 
 

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