Doenças da Retina: Guia Completo sobre Sintomas e Tratamentos Modernos
- Alexandre Netto
- há 5 dias
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Atualizado: há 4 dias

A retina é uma das estruturas mais delicadas e vitais do olho humano. Localizada na parte posterior do globo ocular, essa fina camada de tecido nervoso é responsável por captar a luz e transformá-la em sinais elétricos que nosso cérebro interpreta como imagens.
Quando a retina apresenta problemas, a visão pode ser significativamente comprometida, e em alguns casos, há risco de perda permanente da visão.
Neste artigo, abordaremos as principais condições que afetam a retina, seus sintomas característicos e os tratamentos mais modernos disponíveis atualmente.
Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI)
A DMRI é uma das principais causas de perda visual em pessoas acima de 60 anos. Esta condição afeta a mácula, a região central da retina responsável pela visão detalhada e pela percepção de cores.
Sintomas:
Visão central embaçada ou com área escura no centro do campo visual
Distorção de linhas retas, que passam a parecer onduladas (metamorfopsia)
Dificuldade para reconhecer rostos
Necessidade de mais luz para leitura
Dificuldade para adaptar-se a ambientes com pouca luminosidade
Formas da doença:
A DMRI apresenta-se em duas formas principais: seca (atrófica) e úmida (exsudativa). A forma seca é mais comum, representando cerca de 90% dos casos, e progride lentamente através do acúmulo de depósitos amarelados chamados drusas.
A forma úmida é menos frequente, mas mais agressiva, caracterizada pelo crescimento anormal de vasos sanguíneos sob a retina.
Tratamentos modernos:
Para a DMRI seca, ainda não existe tratamento curativo, mas suplementação com vitaminas antioxidantes e minerais específicos (formulação AREDS2) pode retardar a progressão da doença em casos intermediários e avançados. Pesquisas recentes investigam terapias genéticas e células-tronco como opções futuras.
Na forma úmida, as injeções intravítreas de medicamentos anti-VEGF (fator de crescimento endotelial vascular) revolucionaram o tratamento.
Medicamentos como ranibizumabe, aflibercepte e bevacizumabe bloqueiam o crescimento dos vasos anormais e reduzem o vazamento de líquido.
O tratamento requer aplicações periódicas, geralmente mensais ou bimensais inicialmente, com possível espaçamento conforme a resposta. Novos agentes de maior duração, como faricimabe e brolucizumabe, permitem intervalos mais prolongados entre as aplicações.
Retinopatia Diabética
O diabetes é uma das principais causas de cegueira evitável em adultos em idade produtiva. A retinopatia diabética ocorre quando níveis elevados de glicose no sangue danificam os vasos sanguíneos da retina.
Sintomas:
Nos estágios iniciais, a retinopatia diabética pode ser assintomática, o que torna os exames oftalmológicos regulares essenciais para pacientes diabéticos. Com a progressão da doença, podem surgir manchas flutuantes na visão (moscas volantes), visão embaçada, áreas escuras no campo visual, dificuldade para enxergar cores e perda súbita da visão.
Estágios da doença:
A condição progride em estágios, desde a retinopatia não proliferativa leve até a proliferativa avançada. No estágio proliferativo, novos vasos sanguíneos frágeis crescem na superfície da retina, podendo causar hemorragia vítrea e descolamento de retina.
Tratamentos modernos:
O controle rigoroso da glicemia e da pressão arterial é fundamental para prevenir e retardar a progressão da retinopatia diabética. Quando há edema macular (acúmulo de líquido na mácula), injeções intravítreas de anti-VEGF ou corticosteroides podem reduzir o inchaço e melhorar a visão.
A fotocoagulação a laser continua sendo importante no tratamento da retinopatia proliferativa, cauterizando áreas de isquemia retiniana para reduzir o estímulo ao crescimento de vasos anormais.
Em casos avançados com hemorragia vítrea persistente ou descolamento de retina tracional, a vitrectomia (cirurgia para remover o gel vítreo e reparar a retina) pode ser necessária.
As técnicas cirúrgicas modernas, minimamente invasivas e com instrumentos de calibre cada vez menor, permitem recuperação mais rápida e melhores resultados visuais.
Descolamento de Retina
O descolamento de retina é uma emergência oftalmológica que ocorre quando a retina se separa da camada subjacente de tecido de suporte. Sem tratamento imediato, pode levar à perda permanente da visão.
Sintomas:
Os sinais de alerta incluem aumento súbito de moscas volantes, flashes de luz (fotopsias), especialmente na visão periférica, aparecimento de uma "cortina" ou sombra no campo visual que progride em direção ao centro, e visão embaçada súbita. Qualquer pessoa que experimente esses sintomas deve procurar atendimento oftalmológico imediatamente.
Fatores de risco:
Miopia elevada, cirurgia ocular prévia, trauma ocular, história familiar de descolamento de retina e degenerações retinianas periféricas aumentam o risco de desenvolver a condição.
Tratamentos modernos:
O tratamento depende do tipo e extensão do descolamento. Para pequenas roturas retinianas sem descolamento estabelecido, a fotocoagulação a laser ou criopexia (congelamento) podem selar a rotura e prevenir o descolamento.
Quando há descolamento estabelecido, procedimentos cirúrgicos são necessários.
A retinopexia pneumática, técnica menos invasiva realizada no consultório, envolve a injeção de uma bolha de gás no olho que pressiona a retina de volta ao lugar, seguida de laser ou criopexia. A cirurgia de introflexão escleral utiliza uma faixa de silicone ao redor do olho para aproximar a parede ocular da retina descolada.
A vitrectomia remove o gel vítreo e permite reposicionar a retina, frequentemente usando óleo de silicone ou gás para mantê-la no lugar durante a cicatrização.
As taxas de sucesso cirúrgico são elevadas, especialmente quando o tratamento é realizado precocemente, antes do comprometimento da mácula. A recuperação visual depende da extensão e duração do descolamento.
Oclusões Vasculares da Retina
As oclusões vasculares retinianas ocorrem quando há bloqueio das artérias ou veias que irrigam a retina, similar a um "derrame" no olho.
Essas condições são mais comuns em pessoas com hipertensão, diabetes, colesterol elevado e doenças cardiovasculares.
Sintomas:
A oclusão da artéria central da retina causa perda visual súbita, indolor e severa, geralmente em um único olho. É uma emergência oftalmológica que requer atendimento imediato.
A oclusão da veia central da retina também causa perda visual súbita, mas geralmente menos severa inicialmente, com visão embaçada e possíveis distorções visuais.
Tratamentos modernos:
Na oclusão arterial, o tratamento de emergência visa reduzir a pressão intraocular e melhorar o fluxo sanguíneo, embora as opções terapêuticas sejam limitadas e o prognóstico visual frequentemente é reservado.
Massagem ocular, medicações para baixar a pressão intraocular e oxigenioterapia hiperbárica são algumas abordagens tentadas.
Para oclusões venosas, especialmente quando há edema macular, as injeções intravítreas de anti-VEGF são o tratamento de escolha, demonstrando excelentes resultados na redução do edema e melhora da visão.
Implantes intraoculares de corticosteroides de liberação prolongada, como o implante de dexametasona, oferecem uma alternativa com efeito duradouro.
A fotocoagulação a laser pode ser necessária em casos com isquemia retiniana extensa ou neovascularização.
A investigação e controle dos fatores de risco cardiovasculares são essenciais para prevenir recorrências e proteger o olho contralateral.
Buraco Macular
O buraco macular é uma abertura que se forma na mácula, geralmente relacionada à tração do gel vítreo sobre a retina central. É mais comum em mulheres acima de 60 anos.
Sintomas:
Os pacientes podem notar visão central embaçada ou distorcida, dificuldade para leitura, uma mancha escura ou ausente no centro da visão, e distorção de linhas retas. A visão periférica geralmente permanece preservada.
Tratamentos modernos:
A vitrectomia é o tratamento padrão para buracos maculares, com taxas de fechamento superiores a 90%. Durante o procedimento, o cirurgião remove o gel vítreo e a membrana limitante interna da retina, depois preenche o olho com uma bolha de gás.
O paciente precisa manter posicionamento facial voltado para baixo por vários dias após a cirurgia para permitir que a bolha pressione o buraco e facilite seu fechamento.
Técnicas modernas incluem o uso de corantes para melhor visualização das membranas retinianas e tampões autólogos (do próprio paciente) para auxiliar no fechamento de buracos refratários.
A recuperação visual pode levar meses e varia conforme o tamanho do buraco e a duração dos sintomas antes do tratamento.
Membrana Epirretiniana
Também chamada de pucker macular, a membrana epirretiniana é uma fina camada de tecido cicatricial que se forma sobre a mácula, causando enrugamento da retina.
Sintomas:
Muitas membranas epirretinianas são assintomáticas e descobertas em exames de rotina. Quando sintomáticas, causam visão embaçada, distorção de imagens (as linhas retas parecem onduladas), e visão dupla monocular (diplopia em um único olho).
Tratamentos modernos:
Membranas leves e assintomáticas apenas requerem observação. Quando a visão é significativamente afetada, a vitrectomia com pelagem de membrana é o tratamento de escolha.
O cirurgião remove cuidadosamente a membrana da superfície da retina, permitindo que ela se desenrugue. A recuperação visual é gradual e a maioria dos pacientes experimenta melhora significativa, embora a visão pré-doença nem sempre seja completamente restaurada.
Coriorretinite
As coriorretinites são inflamações da retina e da coroide (camada vascular subjacente) geralmente causadas por infecções ou doenças autoimunes.
Sintomas:
Dependendo da localização e extensão da inflamação, os pacientes podem apresentar visão embaçada, moscas volantes, manchas escuras no campo visual, fotofobia (sensibilidade à luz), e dor ocular.
A toxoplasmose ocular é uma causa comum de coriorretinite.
Tratamentos modernos:
O tratamento depende da causa subjacente. Infecções parasitárias como toxoplasmose requerem antibióticos específicos combinados com corticosteroides para controlar a inflamação.
Infecções virais podem necessitar de antivirais. Casos de origem autoimune são tratados com imunossupressores e corticosteroides sistêmicos ou perioculares.
O acompanhamento rigoroso é essencial, pois cicatrizes retinianas podem resultar em perda visual permanente, especialmente se a mácula for afetada.
A Importância do Diagnóstico Precoce
Muitas doenças da retina têm melhor prognóstico quando diagnosticadas e tratadas precocemente.
Exames oftalmológicos regulares são fundamentais, especialmente para pessoas com fatores de risco como diabetes, hipertensão, miopia elevada, idade acima de 60 anos, ou história familiar de doenças retinianas.
Exames diagnósticos modernos:
A tecnologia oftalmológica avançou significativamente, permitindo diagnósticos mais precisos e precoces. A tomografia de coerência óptica (OCT) fornece imagens detalhadas em corte transversal da retina, permitindo identificar alterações sutis invisíveis ao exame clínico convencional.
A angiografia com fluoresceína e a angiografia com verde de indocianina avaliam a circulação retiniana e coroideana.
A retinografia de campo amplo documenta a periferia retiniana. O OCT-angiografia (OCT-A) é uma técnica não invasiva que mapeia os vasos sanguíneos retinianos sem necessidade de contraste intravenoso.
Conclusão
As doenças da retina representam importantes causas de comprometimento visual, mas os avanços em diagnóstico e tratamento nas últimas décadas melhoraram dramaticamente o prognóstico de muitas dessas condições.
A terapia anti-VEGF revolucionou o tratamento de doenças antes consideradas intratáveis, enquanto técnicas cirúrgicas minimamente invasivas oferecem melhores resultados com recuperação mais rápida.
O elemento mais importante continua sendo a detecção precoce através de exames oftalmológicos regulares, especialmente para indivíduos em grupos de risco.
Qualquer alteração visual súbita ou progressiva deve motivar avaliação oftalmológica imediata.
Com diagnóstico oportuno e tratamento adequado, muitas doenças retinianas podem ser controladas, preservando a visão e a qualidade de vida dos pacientes.
Se você apresenta fatores de risco ou notou mudanças em sua visão, não hesite em procurar um oftalmologista especializado em retina. A prevenção e o tratamento precoce são as melhores estratégias para proteger sua saúde ocular.




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