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Entenda o Que é OCT e Como Essa Técnica Inovadora Permite o Diagnóstico Precoce de Doenças Nos Olhos

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • 26 de nov.
  • 5 min de leitura





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A Tomografia de Coerência Óptica (OCT, do inglês Optical Coherence Tomography) representa um dos avanços mais significativos no diagnóstico oftalmológico das últimas décadas.


Esta tecnologia não invasiva revolucionou a prática clínica ao permitir a visualização in vivo de estruturas oculares com resolução micrométrica, possibilitando a detecção precoce de alterações patológicas antes mesmo do aparecimento de sintomas clínicos evidentes.


Fundamentos Tecnológicos da OCT


A OCT utiliza o princípio da interferometria de baixa coerência para gerar imagens transversais de alta resolução dos tecidos oculares.


O funcionamento baseia-se na emissão de feixes de luz infravermelha próxima (comprimento de onda entre 800 e 1050 nanômetros) que penetram nos tecidos biológicos e são refletidos pelas diferentes camadas estruturais.


A luz refletida é então comparada com um feixe de referência, criando padrões de interferência que são processados algoritmicamente para construir imagens tomográficas bidimensionais e tridimensionais.


A tecnologia evoluiu significativamente desde sua introdução clínica nos anos 1990. Os sistemas de primeira geração utilizavam OCT no domínio do tempo (time-domain OCT), com velocidade de aquisição limitada e resolução axial de aproximadamente 10 micrômetros.


As gerações subsequentes implementaram a OCT no domínio espectral (spectral-domain OCT ou SD-OCT) e, mais recentemente, a OCT de fonte varrida (swept-source OCT ou SS-OCT), alcançando resoluções de 3 a 5 micrômetros e velocidades de varredura superiores a 100.000 A-scans por segundo.


Aplicações Clínicas na Retina e Mácula


A análise detalhada da arquitetura retiniana constitui a aplicação mais consolidada da OCT.


O exame permite identificar e quantificar alterações nas dez camadas histológicas da retina neurossensorial, desde a membrana limitante interna até o epitélio pigmentar da retina (EPR).


Esta capacidade diagnóstica é fundamental para o manejo de diversas condições patológicas.


Na degeneração macular relacionada à idade (DMRI), a OCT possibilita a detecção precoce de drusas, alterações do EPR e o desenvolvimento de neovascularização coroidal antes que ocorra perda visual significativa.


A identificação de fluido sub-retiniano, intra-retiniano ou subepitelial permite não apenas o diagnóstico, mas também o monitoramento da resposta terapêutica às injeções intravítreas de agentes anti-VEGF (fator de crescimento endotelial vascular).


No edema macular diabético, a OCT quantifica objetivamente o espessamento retiniano e identifica padrões específicos de acúmulo de fluido, incluindo cistos intra-retinianos e descolamento seroso neurossensorial.


Estudos demonstram que alterações microestruturais detectáveis pela OCT precedem em meses as manifestações clínicas da retinopatia diabética, permitindo intervenção terapêutica em estágios iniciais quando a preservação visual é mais provável.


A membrana epirretiniana e o buraco macular representam outras condições onde a OCT transformou o diagnóstico e o planejamento cirúrgico.


A tecnologia permite avaliar a espessura da membrana, sua extensão, o grau de tração vitreorretiniana e, nos buracos maculares, determinar o diâmetro, a presença de descolamento de retina associado e a integridade das camadas externas da retina, fatores prognósticos importantes para o sucesso cirúrgico.


Diagnóstico e Acompanhamento do Glaucoma


A avaliação das fibras nervosas da retina e da camada de células ganglionares representa uma aplicação crucial da OCT no diagnóstico precoce do glaucoma.


A doença caracteriza-se pela perda progressiva de células ganglionares retinianas e seus axônios, que formam o nervo óptico.


A OCT quantifica com precisão a espessura da camada de fibras nervosas peripapilar (CFNR) e permite comparação com bancos de dados normativos estratificados por idade e etnia.


Estudos longitudinais demonstram que alterações estruturais detectáveis pela OCT precedem as alterações funcionais mensuráveis pela perimetria computadorizada em aproximadamente dois a quatro anos.


Esta janela diagnóstica é particularmente relevante considerando que a perda de células ganglionares é irreversível, tornando a detecção precoce essencial para preservação da função visual.


A análise do disco óptico pela OCT também fornece medidas objetivas da relação escavação-disco, da área neuroretiniana e de assimetrias entre os olhos, parâmetros fundamentais na avaliação do glaucoma.


Algoritmos de progressão permitem detectar taxas aceleradas de perda tecidual, identificando pacientes que necessitam intensificação terapêutica.


OCT de Segmento Anterior

Embora inicialmente desenvolvida para análise do segmento posterior, a tecnologia OCT expandiu-se para avaliação das estruturas anteriores do olho.


A OCT de segmento anterior utiliza comprimentos de onda maiores (1310 nanômetros) que proporcionam melhor penetração em tecidos opacos como a córnea e a esclera.


Esta modalidade permite mensuração precisa da espessura corneana em toda sua extensão, identificação de distrofias e degenerações corneanas, avaliação pré e pós-operatória de cirurgias refrativas e transplantes de córnea, além da análise da profundidade da câmara anterior e do ângulo iridocorneano.


Na avaliação do glaucoma de ângulo fechado, a OCT de segmento anterior oferece visualização direta das estruturas angulares, superando limitações da gonioscopia tradicional.


A tecnologia também revolucionou o planejamento de cirurgias de catarata, permitindo cálculos biométricos mais precisos para seleção de lentes intraoculares e identificação de condições que podem complicar o procedimento cirúrgico, como pseudoexfoliação e fragilidade zonular.


OCT-Angiografia: Visualização Não Invasiva da Vascularização


A OCT-Angiografia (OCT-A) representa uma evolução tecnológica que permite visualização tridimensional da microvasculatura retiniana e coroidal sem necessidade de injeção de contraste.


O método detecta movimento eritrocitário através de múltiplas varreduras repetidas da mesma área retiniana, identificando variações no sinal de reflectância que correspondem ao fluxo sanguíneo.


Esta técnica possibilita a análise segmentada de diferentes plexos vasculares retinianos (superficial, intermediário e profundo) e da coriocapilar, revelando alterações microvasculares imperceptíveis à angiografia fluoresceínica convencional.


Na retinopatia diabética, a OCT-A detecta áreas de não perfusão capilar, microaneurismas e neovascularização em estágios iniciais.


Na DMRI, permite caracterizar a neovascularização coroidal tipo 1, 2 e 3, fornecendo informações complementares para decisões terapêuticas.


A ausência de contraste intravenoso torna o exame particularmente vantajoso para pacientes com insuficiência renal, alergias ou que necessitam avaliações seriadas frequentes.


Limitações incluem artefatos de movimento, qualidade de imagem reduzida em opacidades de meios e impossibilidade de avaliar extravasamento vascular, informação às vezes relevante clinicamente.


Vantagens e Limitações da Tecnologia OCT


Entre as principais vantagens da OCT destacam-se a natureza não invasiva e não ionizante do exame, a rapidez na aquisição de imagens (típicos protocolos de varredura macular e do disco óptico são completados em menos de cinco minutos), a reprodutibilidade das medidas quantitativas e a capacidade de detecção de alterações subclínicas.


A tecnologia permite acompanhamento longitudinal objetivo, essencial para monitorar progressão de doenças e resposta terapêutica.


As limitações incluem dependência da transparência dos meios ópticos (catarata densa, hemorragia vítrea ou opacidades corneanas significativas prejudicam a qualidade das imagens), possibilidade de artefatos de movimento em pacientes com dificuldade de fixação, e a necessidade de interpretação especializada dos achados.


Embora a tecnologia forneça dados quantitativos objetivos, a correlação com a clínica permanece fundamental para decisões diagnósticas e terapêuticas apropriadas.


Perspectivas Futuras


A integração de inteligência artificial e aprendizado de máquina aos sistemas OCT promete revolucionar ainda mais o diagnóstico oftalmológico. Algoritmos de deep learning já demonstram capacidade de identificar automaticamente padrões patológicos, quantificar biomarcadores estruturais e até prever progressão de doenças com acurácia comparável ou superior à de especialistas experientes.


Desenvolvimentos em OCT adaptativa, que corrige aberrações ópticas do olho em tempo real, prometem alcançar resolução celular, potencialmente permitindo visualização individual de fotorreceptores e outras células retinianas.


A OCT de campo ultra-amplo expandirá o campo de visualização para regiões periféricas da retina, relevante para condições como descolamento de retina e retinopatia diabética proliferativa.


A Tomografia de Coerência Óptica consolidou-se como ferramenta diagnóstica indispensável na oftalmologia contemporânea.


Sua capacidade de fornecer visualização in vivo de microestruturas oculares com resolução histológica transformou o paradigma diagnóstico de numerosas condições oftalmológicas, possibilitando detecção precoce quando intervenções terapêuticas são mais efetivas.

À medida que a tecnologia continua evoluindo, incorporando maior velocidade de aquisição, melhor resolução e algoritmos inteligentes de análise, a OCT certamente manterá seu papel central no diagnóstico, monitoramento e manejo das doenças oculares, contribuindo significativamente para a preservação da saúde visual da população.




 
 
 

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