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Guia Oftalmológico Para os Pacientes: O Descolamento de Retina Explicado em 20 Passos Fundamentais - Sintomas, Exames e Procedimentos

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • 6 de nov.
  • 7 min de leitura

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O descolamento de retina é uma emergência oftalmológica que requer atenção imediata. Compreender essa condição pode fazer a diferença entre preservar ou perder a visão.


Neste guia completo, explicaremos de forma clara e acessível tudo o que você precisa saber sobre essa importante condição ocular.


1. O Que É a Retina e Por Que Ela É Tão Importante?


A retina é uma fina camada de tecido nervoso localizada na parte posterior do olho, funcionando como o "filme fotográfico" do sistema visual.


Ela contém milhões de células fotorreceptoras (cones e bastonetes) que captam a luz e a convertem em impulsos nervosos, transmitindo as imagens ao cérebro através do nervo óptico.


Sem uma retina saudável e bem posicionada, a visão nítida torna-se impossível.


2. Compreendendo o Descolamento de Retina


O descolamento de retina ocorre quando a camada neurossensorial da retina se separa do epitélio pigmentado subjacente, interrompendo o fornecimento de oxigênio e nutrientes essenciais.


Imagine a retina como um papel de parede que se desprende da parede: quando isso acontece, ela deixa de funcionar adequadamente, resultando em perda visual progressiva na área afetada.


3. Os Três Tipos Principais de Descolamento


Existem três categorias principais de descolamento retiniano. O descolamento regmatogênico, o mais comum, ocorre quando uma ruptura ou buraco na retina permite que o líquido vítreo penetre sob ela.


O descolamento tracional acontece quando tecido cicatricial puxa a retina para longe de sua posição normal, frequentemente associado à retinopatia diabética avançada.


Já o descolamento exsudativo resulta do acúmulo de fluido sob a retina sem ruptura, geralmente relacionado a processos inflamatórios ou tumorais.


4. Fatores de Risco: Quem Está Mais Vulnerável?


Diversos fatores aumentam o risco de descolamento retiniano. A miopia elevada (acima de seis graus) alonga o globo ocular e adelgaça a retina, tornando-a mais suscetível a rupturas.


Cirurgias oculares prévias, especialmente de catarata, traumas oculares, história familiar de descolamento, degeneração lattice (áreas enfraquecidas da retina periférica) e idade avançada são outros fatores importantes.


Pacientes com esses fatores de risco devem realizar exames oftalmológicos regulares e detalhados.


5. Os Sintomas Clássicos:


Reconhecendo os Sinais de Alerta

Os sintomas de descolamento retiniano geralmente aparecem subitamente e são característicos.


O surgimento súbito de moscas volantes (pontos ou teias flutuantes no campo visual) em grande quantidade, flashes luminosos (fotopsias) que parecem relâmpagos ou faíscas mesmo no escuro, e uma sombra ou cortina escura avançando progressivamente no campo visual são os sinais mais comuns.


Curiosamente, o descolamento em si não causa dor, o que pode levar alguns pacientes a subestimarem a gravidade da situação.


6. Por Que Moscas Volantes Aumentam Repentinamente?


O aumento súbito de moscas volantes frequentemente indica uma hemorragia vítrea ou um descolamento vítreo posterior com possível ruptura retiniana associada.


Quando o vítreo se descola da retina, pode tracionar o tecido retiniano e causar pequenos sangramentos ou rupturas.


As células sanguíneas e detritos flutuam no vítreo, projetando sombras na retina que percebemos como moscas volantes.


Embora moscas volantes isoladas sejam comuns e geralmente benignas, um aumento súbito e significativo requer avaliação oftalmológica urgente.


7. O Significado dos Flashes Luminosos


As fotopsias ou flashes luminosos ocorrem quando há tração mecânica sobre a retina. A estimulação física das células fotorreceptoras produz a sensação de luz mesmo na ausência de luz real, um fenômeno conhecido como fosfeno.


Esses flashes são mais perceptíveis em ambientes escuros e podem aparecer como raios, estrelas ou arcos de luz. Sua presença sugere que o vítreo está exercendo força sobre a retina, podendo causar ou já ter causado uma ruptura.


8. A Importância da Avaliação Oftalmológica Imediata


O descolamento de retina é uma verdadeira emergência oftalmológica. Quanto mais tempo a retina permanece descolada, maior o dano às células fotorreceptoras e menor a chance de recuperação visual completa.


Idealmente, pacientes com sintomas sugestivos devem ser avaliados por um oftalmologista especializado em retina dentro de 24 horas.


O descolamento envolvendo a mácula (área central responsável pela visão de detalhes) requer intervenção ainda mais urgente, preferencialmente nas primeiras horas.


9. O Exame Oftalmológico Completo


A avaliação inicia-se com a história clínica detalhada, seguida pela medição da acuidade visual em cada olho. O exame de biomicroscopia avalia as estruturas anteriores do olho, enquanto a medição da pressão intraocular pode revelar hipotonia (pressão reduzida) no olho afetado.


O exame fundamental é a oftalmoscopia indireta com dilatação pupilar, que permite visualização panorâmica da retina periférica, onde a maioria dos descolamentos se inicia.


10. Mapeamento de Retina: Visualizando o Problema


O mapeamento de retina é um exame indolor realizado com o paciente sentado ou deitado. Após a dilatação pupilar com colírios específicos, o oftalmologista utiliza lentes especiais e uma fonte de luz potente para examinar toda a extensão da retina, incluindo as áreas mais periféricas.


O médico identifica e documenta rupturas, buracos, áreas de descolamento e seu tamanho, além de avaliar o vítreo. Este exame é essencial para planejar o tratamento mais adequado.


11. Exames Complementares de Imagem


Quando a visualização direta da retina está comprometida por opacidades do vítreo ou cristalino, exames de imagem tornam-se fundamentais.


A ultrassonografia ocular modo B utiliza ondas sonoras para criar imagens detalhadas das estruturas internas do olho, sendo especialmente útil quando há hemorragia vítrea densa.


A tomografia de coerência óptica (OCT) fornece imagens de alta resolução das camadas retinianas, permitindo avaliar o envolvimento macular e a integridade das camadas neurossensoriais.


12. Tratamento a Laser: Prevenção de Descolamentos


A fotocoagulação a laser é utilizada principalmente de forma preventiva quando são detectadas rupturas ou buracos retinianos sem descolamento associado, ou em casos de degenerações retinianas predisponentes.


O laser cria pequenas queimaduras ao redor da lesão, produzindo cicatrizes que "soldam" a retina ao tecido subjacente, impedindo que fluido penetre sob ela. Este procedimento ambulatorial é rápido, relativamente indolor e pode prevenir descolamentos extensos.


13. Retinopexia Pneumática: Tratamento com Gás


A retinopexia pneumática é uma técnica minimamente invasiva adequada para descolamentos recentes e localizados na região superior da retina.


O oftalmologista injeta uma pequena bolha de gás expansível (geralmente SF6 ou C3F8) dentro do olho. A bolha flutua até a área superior do olho, pressionando a retina contra a parede ocular.


Combinada com laser ou crioterapia ao redor da ruptura, a bolha mantém a retina em posição enquanto a cicatrização ocorre.


O paciente deve manter posicionamento específico da cabeça por vários dias.


14. Retinopexia com Introflexão Escleral


A introflexão escleral ou "buckle" é uma técnica cirúrgica tradicional e eficaz. O cirurgião sutura uma banda de silicone ou esponja ao redor da parte externa do olho, criando uma indentação que aproxima a parede ocular da retina descolada.


Este procedimento reduz a tração sobre as rupturas retinianas e facilita a reaplicação da retina. Frequentemente, o cirurgião também drena o fluido sub-retiniano e aplica crioterapia nas rupturas.


A taxa de sucesso primário varia entre setenta e noventa por cento.


15. Vitrectomia: A Cirurgia Intraocular


A vitrectomia é frequentemente necessária para descolamentos complexos, envolvendo a mácula, com proliferação vítreo-retiniana ou quando há opacidade vítrea significativa.


Através de incisões minúsculas (geralmente inferiores a um milímetro), o cirurgião remove o gel vítreo, elimina trações sobre a retina, drena o fluido sub-retiniano e reaplica a retina com laser ou crioterapia.


Ao final, o olho é preenchido com gás ou óleo de silicone para manter a retina em posição durante a cicatrização.


16. O Papel dos Tamponamentos Internos


Após a replicação da retina, substâncias específicas são injetadas no olho para manter a retina em posição.


Os gases expansíveis (SF6, C3F8) são absorvidos gradualmente pelo organismo em algumas semanas e exigem posicionamento específico do paciente.


O óleo de silicone oferece tamponamento de longo prazo, sendo útil em casos complexos, mas geralmente requer remoção cirúrgica posterior.


Durante o uso de gás, o paciente não pode viajar de avião devido ao risco de expansão da bolha com a altitude.


17. Cuidados Pós-Operatórios Essenciais


O período pós-operatório é crucial para o sucesso do tratamento. O posicionamento adequado da cabeça conforme orientado pelo cirurgião é fundamental, especialmente quando há bolha de gás no olho.


O paciente deve usar os colírios prescritos religiosamente, evitar esforços físicos intensos, não coçar ou pressionar o olho operado e comparecer a todas as consultas de acompanhamento.


Sintomas como dor intensa, piora súbita da visão ou vermelhidão progressiva devem ser comunicados imediatamente ao oftalmologista.


18. Prognóstico Visual: O Que Esperar?


A recuperação visual depende de múltiplos fatores. Descolamentos que não envolvem a mácula e são tratados precocemente têm melhor prognóstico, com possibilidade de recuperação visual excelente.


Quando a mácula está descolada, especialmente por mais de uma semana, a recuperação visual é geralmente parcial.


A presença de proliferação vítreo-retiniana, descolamentos crônicos e múltiplas cirurgias prévias reduzem as chances de sucesso anatômico e funcional.


A recuperação visual máxima pode levar vários meses após a cirurgia.


19. Complicações Possíveis e Redescolamento


Embora as técnicas cirúrgicas sejam altamente eficazes, complicações podem ocorrer.


A proliferação vítreo-retiniana, caracterizada pela formação de membranas fibróticas sobre a retina, é a principal causa de redescolamento e pode requerer cirurgias adicionais.


Outras complicações incluem catarata (especialmente após vitrectomia), glaucoma secundário, infecção intraocular (rara mas grave), hemorragia e problemas refrativos.


O redescolamento ocorre em aproximadamente dez a quinze por cento dos casos, exigindo reintervenção cirúrgica.


20. Prevenção e Vigilância: Protegendo Sua Visão


Embora nem todos os descolamentos sejam preveníveis, medidas proativas reduzem significativamente o risco.


Pacientes com fatores de risco devem realizar exames oftalmológicos periódicos com mapeamento de retina, idealmente anualmente ou conforme recomendação médica.


Tratamento preventivo com laser de lesões predisponentes identificadas no exame é altamente eficaz.


Proteção ocular adequada durante atividades esportivas ou ocupacionais de risco, controle rigoroso de doenças como diabetes, e atenção imediata a qualquer sintoma visual súbito são medidas fundamentais na preservação da saúde retiniana.


Conclusão


O descolamento de retina representa uma das emergências oftalmológicas mais sérias, mas o conhecimento adequado e a ação rápida podem fazer toda a diferença no prognóstico visual.


Ao reconhecer os sintomas de alerta, procurar avaliação oftalmológica imediata e seguir rigorosamente as orientações de tratamento e acompanhamento, os pacientes maximizam suas chances de preservar a visão.


A prevenção através de exames regulares, especialmente em pacientes de risco, permanece a estratégia mais eficaz para evitar consequências visuais graves desta condição.


Se você apresenta fatores de risco ou experimentou qualquer sintoma descrito neste artigo, não hesite em procurar um oftalmologista especializado em retina.

A proteção da sua visão depende da combinação entre conhecimento, vigilância e ação oportuna.


Referências sugeridas para aprofundamento:


American Academy of Ophthalmology - Retina Health Center

Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo

British Journal of Ophthalmology - Retinal Detachment Guidelines


Este artigo tem propósito educacional e não substitui consulta médica oftalmológica. Para diagnóstico e tratamento adequados, procure sempre um oftalmologista especializado.



 
 
 

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