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Hipermetropia: Entenda essa Condição Ocular - Causas, Sintomas, Diagnóstico e Tratamento

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • 17 de jun.
  • 10 min de leitura

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A hipermetropia é uma das condições refrativas mais comuns que afetam a visão humana, caracterizada pela dificuldade em enxergar objetos próximos com nitidez.


Embora muitas pessoas associem problemas visuais principalmente à miopia, a hipermetropia representa um desafio significativo para milhões de pessoas em todo o mundo, impactando desde atividades cotidianas simples até o desempenho acadêmico e profissional.


Esta condição ocular, também conhecida como "vista cansada" em alguns contextos populares (embora este termo seja mais frequentemente associado à presbiopia), resulta de alterações na anatomia ocular que impedem a formação adequada da imagem na retina.


Compreender seus mecanismos, manifestações clínicas e opções terapêuticas é fundamental tanto para profissionais da saúde quanto para pacientes que buscam melhor qualidade de vida visual.


O que é Hipermetropia?


A hipermetropia é um erro refrativo no qual os raios de luz que entram no olho são focalizados atrás da retina, em vez de diretamente sobre ela. Isso resulta em uma visão desfocada, especialmente para objetos próximos, enquanto a visão de longe pode permanecer relativamente preservada, particularmente em casos leves.


Para compreender melhor este fenômeno, é essencial conhecer a anatomia básica do sistema visual. O olho humano funciona como uma sofisticada câmera biológica, onde a córnea e o cristalino atuam como lentes que direcionam a luz para a retina.


Em condições normais de refração (emetropia), essas estruturas trabalham em harmonia para garantir que a imagem se forme precisamente na retina, proporcionando visão nítida.


Na hipermetropia, essa harmonia é perturbada. O comprimento axial do olho pode ser menor que o normal, ou o poder refrativo das estruturas oculares pode ser insuficiente para convergir adequadamente os raios luminosos.


Consequentemente, o ponto focal teórico situa-se posteriormente à retina, criando uma imagem borrada no plano retiniano.


Classificação da Hipermetropia


A hipermetropia pode ser classificada de diferentes maneiras, sendo as principais:


Por Grau de Severidade:


- Hipermetropia Leve: até +2,00 dioptrias

- Hipermetropia Moderada: de +2,00 a +4,00 dioptrias

- Hipermetropia Alta: acima de +4,00 dioptrias


Por Origem Anatômica:


- Hipermetropia Axial: resulta de um comprimento axial ocular menor que o normal

- Hipermetropia Refrativa: decorre de menor poder refrativo da córnea ou cristalino

- Hipermetropia de Índice: causada por alterações no índice de refração dos meios oculares


Por Capacidade de Compensação:


- Hipermetropia Manifesta: a parte que não pode ser compensada pela acomodação

- Hipermetropia Latente: a porção compensada pela acomodação natural do olho

- Hipermetropia Total: a soma das duas anteriores


Causas da Hipermetropia


A hipermetropia resulta de diversos fatores que podem atuar isoladamente ou em combinação:


Fatores Anatômicos


O principal mecanismo causador da hipermetropia é a desproporção entre o comprimento axial do olho e seu poder refrativo. Um olho com eixo ântero-posterior mais curto que o normal necessitará de maior convergência dos raios luminosos para formar a imagem na retina. Essa situação é particularmente comum durante o desenvolvimento infantil, quando o crescimento ocular ainda não atingiu suas proporções definitivas.


Alterações na curvatura corneana também podem contribuir para o desenvolvimento da hipermetropia. Uma córnea mais plana que o normal apresenta menor poder refrativo, reduzindo a capacidade de convergir adequadamente os raios de luz. Similarmente, mudanças na conformação ou posição do cristalino podem afetar o sistema refrativo ocular.


Fatores Genéticos


A hereditariedade desempenha papel fundamental na manifestação da hipermetropia. Estudos epidemiológicos demonstram forte correlação familiar, com maior probabilidade de desenvolvimento da condição em indivíduos cujos pais apresentam erros refrativos. Múltiplos genes estão envolvidos no controle do crescimento ocular e no desenvolvimento das estruturas refrativas, explicando a complexidade dos padrões hereditários observados.


Fatores de Desenvolvimento


Durante o período de crescimento, especialmente nos primeiros anos de vida, é comum observar graus leves de hipermetropia que tendem a diminuir com o desenvolvimento normal do olho. Este processo, conhecido como emetropização, representa a tendência natural do sistema visual em buscar o equilíbrio refrativo. Entretanto, quando esse mecanismo falha ou é insuficiente, a hipermetropia pode persistir ou até mesmo progredir.


Fatores Adquiridos


Embora menos frequentes, algumas condições adquiridas podem resultar em hipermetropia secundária. Trauma ocular, cirurgias intraoculares, diabetes mellitus com alterações do cristalino, e certas medicações podem modificar as características refrativas do olho. Tumores orbitários que exercem pressão sobre o globo ocular também podem alterar sua forma e, consequentemente, suas propriedades refrativas.


Sintomas da Hipermetropia


A sintomatologia da hipermetropia varia significativamente entre indivíduos, dependendo do grau da condição, da idade do paciente e da capacidade acomodativa residual.


Sintomas Visuais Primários


O sintoma mais característico da hipermetropia é a dificuldade para enxergar objetos próximos com nitidez. Atividades como leitura, costura, uso de dispositivos eletrônicos ou qualquer tarefa que exija visão de perto podem se tornar desafiadoras. Pacientes frequentemente relatam que precisam afastar o material de leitura para conseguir focar adequadamente, um comportamento compensatório instintivo.


A visão de longe geralmente permanece menos afetada, especialmente em casos de hipermetropia leve a moderada. Isso ocorre porque a demanda acomodativa para objetos distantes é menor, permitindo que o mecanismo de compensação natural seja mais efetivo. Contudo, em casos de hipermetropia alta, tanto a visão de perto quanto a de longe podem estar comprometidas.


Sintomas Astenópicos


A astenopia, ou fadiga visual, representa um conjunto de sintomas frequentemente associados à hipermetropia. O esforço constante para manter a acomodação e compensar o erro refrativo resulta em desconforto ocular, sensação de peso nos olhos, dor de cabeça (especialmente frontal e temporal), e sensação de ardor ou queimação ocular.


Esses sintomas tendem a se intensificar após períodos prolongados de atividade visual, particularmente aquelas que envolvem visão de perto. Muitos pacientes relatam que os sintomas melhoram com o repouso visual ou quando direcionam o olhar para distâncias maiores.


Manifestações em Diferentes Faixas Etárias


Em crianças, a hipermetropia pode manifestar-se de forma menos óbvia, uma vez que sua capacidade acomodativa é naturalmente superior à dos adultos. Entretanto, sinais indiretos podem incluir dificuldades de aprendizagem, falta de interesse por atividades que requerem visão de perto, comportamentos de evitação de leitura, e irritabilidade durante tarefas visuais.


Adultos jovens com hipermetropia podem apresentar sintomas intermitentes, especialmente durante períodos de maior demanda visual ou estresse. À medida que a capacidade acomodativa diminui com a idade, os sintomas tendem a se tornar mais evidentes e constantes.


Em adultos maduros, a combinação da hipermetropia com a presbiopia natural pode resultar em dificuldades visuais significativas tanto para perto quanto para longe, exigindo correção óptica mais complexa.


Sintomas Secundários


Além dos sintomas visuais diretos, a hipermetropia pode estar associada a manifestações secundárias como lacrimejamento excessivo devido ao esforço visual, fotofobia leve, e em alguns casos, desenvolvimento de estrabismo convergente, especialmente em crianças com hipermetropia significativa.


Diagnóstico da Hipermetropia


O diagnóstico preciso da hipermetropia requer avaliação oftalmológica abrangente, combinando história clínica detalhada, exame físico especializado e testes diagnósticos específicos.


Anamnese e História Clínica


A coleta de informações sobre sintomas visuais, história familiar de problemas refrativos, desenvolvimento visual na infância, e impacto dos sintomas nas atividades diárias fornece dados fundamentais para o diagnóstico. É importante investigar quando os sintomas se iniciaram, sua progressão ao longo do tempo, e quais fatores os exacerbam ou aliviam.


A história ocupacional e de hobbies também é relevante, pois profissões ou atividades que demandam intensa visão de perto podem tornar os sintomas mais evidentes. Informações sobre uso prévio de correção óptica, cirurgias oculares anteriores, e medicações em uso completam o quadro clínico inicial.


Exame Físico Oftalmológico


O exame físico oftalmológico compreende várias etapas essenciais:


Acuidade Visual:


A medição da acuidade visual para longe e para perto, com e sem correção, fornece informações iniciais sobre a função visual. Na hipermetropia, é comum observar acuidade visual para longe relativamente preservada, com maior comprometimento da visão de perto.


Refração Objetiva:


A retinoscopia representa o método objetivo padrão para determinação do erro refrativo. Este exame permite identificar e quantificar a hipermetropia, mesmo quando parcialmente compensada pela acomodação. Em alguns casos, pode ser necessário realizar o exame sob cicloplegia (dilatação farmacológica da pupila) para eliminar completamente a influência da acomodação.


Refração Subjetiva:


Após a determinação objetiva do erro refrativo, procede-se ao refinamento subjetivo, onde o paciente participa ativamente na determinação da correção óptica que proporciona melhor visão e conforto visual.


Exames Complementares


Ceratometria:


A medição da curvatura corneana auxilia na diferenciação entre hipermetropia de origem corneana e axial, fornecendo informações importantes para o planejamento terapêutico.


Biometria Ocular:


A ultrassonografia A-scan ou biometria óptica permite medir o comprimento axial do olho, confirmando se a hipermetropia tem componente axial significativo.


Topografia Corneana:


Este exame fornece mapeamento detalhado da superfície corneana, identificando irregularidades que podem contribuir para os sintomas visuais.


Aberrometria:


Em casos selecionados, a análise das aberrações oculares pode fornecer informações adicionais sobre a qualidade óptica do sistema visual.


Exames Específicos em Pediatria


O diagnóstico de hipermetropia em crianças requer técnicas e equipamentos adaptados à faixa etária. A cicloplegia é frequentemente necessária para eliminar completamente a acomodação, permitindo determinação precisa do erro refrativo. Agentes ciclopégicos como ciclopentolato ou atropina são utilizados conforme a idade e colaboração da criança.


A avaliação também deve incluir pesquisa de estrabismo associado, uma vez que a hipermetropia significativa pode levar ao desenvolvimento de esotropia acomodativa. Testes de visão binocular e estereopsis complementam a avaliação pediátrica.


Tratamento da Hipermetropia


O tratamento da hipermetropia visa corrigir o erro refrativo e proporcionar visão nítida e confortável, minimizando os sintomas astenópicos. As opções terapêuticas incluem correção óptica, cirurgia refrativa, e em casos específicos, abordagens complementares.


Correção Óptica


Óculos:


Representam a forma mais comum e segura de correção da hipermetropia. Lentes convergentes (positivas) são prescritas para compensar o déficit refrativo, permitindo que a imagem se forme adequadamente na retina. A prescrição deve considerar não apenas o grau total da hipermetropia, mas também a capacidade acomodativa do paciente, idade, e demandas visuais específicas.


Em casos de hipermetropia leve em pacientes jovens com boa capacidade acomodativa, pode-se optar por correção parcial, prescrevendo apenas o grau necessário para alívio dos sintomas astenópicos. À medida que a idade avança e a acomodação diminui, a prescrição pode ser gradualmente aumentada.


Para pacientes com presbiopia concomitante, lentes multifocais ou progressivas podem ser necessárias para proporcionar visão adequada em todas as distâncias. A adaptação a essas lentes requer período de ajuste e seguimento cuidadoso.


Lentes de Contato:


Oferecem vantagens estéticas e funcionais significativas, proporcionando campo visual mais amplo e eliminando aberrações periféricas associadas aos óculos. Lentes de contato gelatinosas esféricas são adequadas para a maioria dos casos, enquanto lentes rígidas gás-permeáveis podem ser indicadas em situações específicas.


Para pacientes com presbiopia, lentes de contato multifocais ou sistemas de monovisão podem ser considerados. O sucesso da adaptação depende de fatores como motivação do paciente, qualidade lacrimal, e anatomia palpebral.


Cirurgia Refrativa


A cirurgia refrativa representa opção terapêutica definitiva para pacientes selecionados, eliminando ou reduzindo significativamente a dependência de correção óptica.


LASIK (Laser-Assisted in Situ Keratomileusis):


Técnica amplamente utilizada que combina a criação de um retalho corneano com ablação por excimer laser. O procedimento visa aumentar a curvatura central da córnea, incrementando seu poder refrativo para compensar a hipermetropia. Indicado para hipermetropia até aproximadamente +6,00 dioptrias, dependendo da espessura corneana disponível.


PRK (Photorefractive Keratectomy):


Técnica de superfície que remove o epitélio corneano antes da ablação com excimer laser. Embora o período de recuperação seja mais prolongado em comparação ao LASIK, o PRK pode ser indicado em casos de córneas mais finas ou irregularidades epiteliais.


SMILE (Small Incision Lenticule Extraction):


Técnica mais recente que utiliza laser femtosegundo para criar e remover um lentículo intracorneano, modificando a curvatura corneana. Embora inicialmente desenvolvida para miopia, adaptações para hipermetropia estão em desenvolvimento.


Cirurgias Intraoculares:


Para casos de hipermetropia alta ou em pacientes não candidatos à cirurgia corneana, podem ser consideradas lentes intraoculares fácicas (implantadas sem remoção do cristalino natural) ou troca do cristalino transparente por lente intraocular multifocal.


Considerações Especiais no Tratamento


Tratamento Pediátrico:


Em crianças, o tratamento da hipermetropia deve considerar o desenvolvimento visual em curso. Hipermetropia leve frequentemente não requer correção, exceto quando associada a sintomas significativos ou estrabismo. A prescrição deve ser cuidadosamente balanceada para evitar sobreposição excessiva ou subtratamento.


Hipermetropia e Estrabismo:


Quando a hipermetropia está associada a esotropia acomodativa, a correção óptica completa é fundamental para restabelecer o alinhamento ocular. Nesses casos, a prescrição da correção total é prioritária, mesmo em crianças pequenas.


Seguimento e Ajustes:


O tratamento da hipermetropia requer seguimento regular, especialmente em crianças e adultos jovens, devido às possíveis mudanças refratívas ao longo do tempo. Ajustes na prescrição podem ser necessários para manter visão ótima e conforto visual.


Prognóstico e Complicações


O prognóstico da hipermetropia é geralmente excelente quando adequadamente diagnosticada e tratada. A maior parte dos pacientes experimenta melhora significativa dos sintomas visuais e da qualidade de vida com correção óptica apropriada.


Prognóstico em Diferentes Idades


Em crianças, a hipermetropia leve frequentemente melhora espontaneamente com o crescimento ocular, processo conhecido como emetropização. Entretanto, hipermetropia moderada a alta tende a persistir e pode requerer correção permanente.


Adultos com hipermetropia bem corrigida geralmente mantêm visão estável por longos períodos. O desenvolvimento natural da presbiopia após os 40 anos pode modificar as necessidades de correção, exigindo adaptações na prescrição.


Complicações Potenciais


Embora a hipermetropia seja condição relativamente benigna, algumas complicações podem ocorrer:


Estrabismo Acomodativo:


Especialmente em crianças, a hipermetropia significativa pode levar ao desenvolvimento de esotropia devido ao esforço acomodativo excessivo. A correção óptica adequada geralmente resolve ou melhora significativamente essa condição.


Ambliopia:


Em casos de hipermetropia assimétrica ou alta bilateral, pode ocorrer desenvolvimento de ambliopia (olho preguiçoso), especialmente quando o tratamento é postergado na infância.


Glaucoma de Ângulo Fechado:


Olhos hipermetrópicos tendem a ter câmara anterior mais rasa, predispondo ao desenvolvimento de glaucoma de ângulo fechado em indivíduos suscetíveis, particularmente com o avanço da idade.


Prevenção e Cuidados


Embora a hipermetropia tenha forte componente genético, algumas medidas podem contribuir para a manutenção da saúde visual:


Detecção Precoce


Exames oftalmológicos regulares, especialmente em crianças com história familiar de problemas refrativos, permitem diagnóstico e tratamento precoces, prevenindo complicações como ambliopia e estrabismo.


Higiene Visual


Práticas de higiene visual adequadas, incluindo iluminação apropriada para atividades de perto, pausas regulares durante trabalho visual intenso, e manutenção de distância adequada para leitura, podem minimizar os sintomas astenópicos.


Acompanhamento Regular


Consultas oftalmológicas periódicas permitem ajustes na correção óptica conforme necessário e monitoramento de possíveis complicações.


Conclusão


A hipermetropia representa uma condição refrativa comum que, embora frequentemente subestimada, pode impactar significativamente a qualidade de vida dos portadores.


Sua compreensão adequada, desde os mecanismos fisiopatológicos até as opções terapêuticas disponíveis, é fundamental para profissionais de saúde envolvidos no cuidado visual.


O diagnóstico precoce e o tratamento apropriado não apenas proporcionam alívio dos sintomas, mas também previnem complicações potenciais, especialmente em crianças.


A evolução das técnicas de correção óptica e cirúrgica oferece aos pacientes opções cada vez mais eficazes e personalizadas.


A abordagem multidisciplinar, envolvendo oftalmologistas, optometristas e outros profissionais de saúde visual, garante cuidado abrangente e resultados ótimos.


A educação continuada dos profissionais e a conscientização da população sobre a importância dos cuidados visuais preventivos permanecem como pilares fundamentais na promoção da saúde ocular.


Por fim, é importante reconhecer que cada caso de hipermetropia é único, exigindo avaliação individualizada e plano terapêutico personalizado.

A medicina baseada em evidências, combinada com a experiência clínica e as necessidades específicas de cada paciente, constitui a base para o manejo bem-sucedido desta condição refrativa.



 
 
 

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