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Implante de Chip de Retina: Entenda o Tratamento Inovador Para DMRI

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • há 6 horas
  • 7 min de leitura



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A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) representa uma das principais causas de perda visual irreversível em pessoas acima de 50 anos nos países desenvolvidos.


Enquanto os tratamentos convencionais focam em retardar a progressão da doença, uma tecnologia revolucionária promete restaurar a visão p erdida: os implantes de chip de retina.


Este avanço representa uma mudança de paradigma no tratamento da DMRI avançada, oferecendo esperança para pacientes que antes teriam poucas alternativas terapêuticas.


Compreendendo a DMRI e Suas Consequências


A DMRI afeta a mácula, região central da retina responsável pela visão de detalhes e pela percepção de cores.


Esta área, com aproximadamente 5mm de diâmetro, contém a maior concentração de fotorreceptores cônicos, essenciais para atividades como leitura, reconhecimento facial e condução de veículos.


Existem duas formas principais da doença: a seca (atrófica) e a úmida (exsudativa). A forma seca, responsável por cerca de 85% dos casos, caracteriza-se pelo acúmulo progressivo de drusas e atrofia do epitélio pigmentar da retina (EPR).


A forma úmida, embora menos frequente, progride mais rapidamente devido à neovascularização coroidal, com formação de vasos sanguíneos anormais que extravasam fluido e sangue.


Na fase avançada, particularmente na atrofia geográfica, ocorre morte irreversível dos fotorreceptores e do EPR na região macular.


Esta perda celular resulta em escotoma central (mancha escura no campo visual central), preservando apenas a visão periférica.


É justamente neste estágio avançado, quando os tratamentos tradicionais já não oferecem benefícios, que os implantes de retina mostram seu potencial transformador.


Fundamentos da Tecnologia de Implante de Retina


Os implantes de retina são dispositivos bioeletrônicos que funcionam como próteses visuais, substituindo parcialmente a função dos fotorreceptores danificados.


O princípio básico consiste em converter informação visual em estímulos elétricos capazes de ativar as células remanescentes da retina, principalmente as células ganglionares e bipolares, que transmitem o sinal visual ao cérebro através do nervo óptico.


Atualmente, existem três abordagens principais quanto ao posicionamento do implante:


Implantes epiretinianos: posicionados sobre a superfície interna da retina, em contato com as células ganglionares.


O sistema Argus II foi o primeiro aprovado pelo FDA americano para essa finalidade.


Implantes subretinianos: colocados no espaço subretiniano, entre a retina neurossensorial e o EPR, mais próximos da localização anatômica original dos fotorreceptores.


O sistema Alpha IMS e posteriormente o Alpha AMS representam esta categoria.


Implantes supracoroidais: posicionados no espaço supracoroidal, oferecendo menor invasividade cirúrgica, mas com distância maior dos neurônios-alvo.


O Sistema Alpha AMS: Tecnologia de Ponta em Implantes Subretinianos


O Alpha AMS (Retina Implant Alpha AMS) representa a evolução mais sofisticada dos implantes subretinianos.


Desenvolvido na Alemanha, este dispositivo é completamente implantável e não requer câmeras externas ou óculos especiais, diferentemente de alguns sistemas epiretinianos.


O chip possui dimensões de 3x3mm e contém 1.600 microfotodiodos que funcionam como fotorreceptores artificiais.


Cada microfotodiodo capta luz ambiente diretamente através da pupila, converte-a em sinais elétricos e estimula as células bipolares e ganglionares remanescentes da retina.


Esta arquitetura biomimética permite que o paciente direcione naturalmente o olhar para focar objetos de interesse, preservando os movimentos oculares fisiológicos.


O sistema inclui ainda uma unidade de controle subcutânea posicionada atrás da orelha, responsável por alimentar o chip e regular os parâmetros de estimulação.


Um cabo transcutâneo conecta esta unidade a uma fonte de energia externa que o paciente carrega diariamente, similar ao carregamento de dispositivos eletrônicos convencionais.


Mecanismo de Funcionamento e Processamento Visual


O processo de restauração visual através do implante subretiniano ocorre em várias etapas integradas.


Quando a luz atinge os microfotodiodos do chip, cada elemento fotossensível gera corrente elétrica proporcional à intensidade luminosa recebida.


Esta corrente estimula eletricamente os neurônios retinianos adjacentes através de micropulsos controlados.


As células bipolares e ganglionares, preservadas mesmo após a morte dos fotorreceptores na DMRI avançada, respondem a estes estímulos elétricos gerando potenciais de ação.


Estes sinais neurais percorrem o nervo óptico até o córtex visual occipital, onde são processados e interpretados como informação visual.


Importante destacar que a visão proporcionada pelos implantes atuais difere significativamente da visão natural.


Com 1.600 pixels, a resolução é limitada, comparável a imagens de baixa definição.


Os pacientes percebem predominantemente padrões de luz em escala de cinza, contrastes e contornos de objetos.


Apesar destas limitações, estudos clínicos demonstram que esta informação visual parcial oferece ganhos funcionais significativos na qualidade de vida.


Critérios de Seleção e Avaliação Pré-Operatória


A indicação para implante de chip de retina requer avaliação criteriosa e multidisciplinar.


Os principais critérios de elegibilidade incluem:


Diagnóstico confirmado:


DMRI em estágio avançado com atrofia geográfica extensa ou pacientes com outras distrofias retinianas hereditárias, como retinose pigmentar.


Funcionalidade do nervo óptico:


Preservação das vias neurais posteriores à retina, avaliada através de potenciais evocados visuais e neuroimagem.


Acuidade visual:


Geralmente limitada a percepção de vultos ou movimentos de mão, sem benefício de tratamentos convencionais.


Ausência de comorbidades:


Ausência de glaucoma avançado, descolamento de retina prévio ou outras patologias que comprometam a viabilidade neuronal retiniana.


Capacidade cognitiva:


Habilidade de compreender o procedimento, participar do processo de reabilitação e ter expectativas realistas quanto aos resultados.


A avaliação pré-operatória inclui mapeamento de retina detalhado, tomografia de coerência óptica (OCT), angiografia fluoresceínica, eletrorretinografia, campo visual computadorizado e avaliação da integridade das células ganglionares.


Exames de neuroimagem como ressonância magnética cerebral podem ser necessários para confirmar a integridade das vias ópticas centrais.


Procedimento Cirúrgico e Aspectos Técnicos


O implante do chip de retina é um procedimento cirúrgico complexo que exige expertise em cirurgia vitreorretiniana avançada.


Realizado sob anestesia geral, dura aproximadamente três a quatro horas e envolve múltiplas etapas precisas.


Inicialmente, realiza-se vitrectomia via pars plana completa para remover o vítreo e permitir acesso à retina.


Posteriormente, cria-se um retalho retiniano ou uma pequena retinotomia na região macular afetada.


O chip é então cuidadosamente inserido no espaço subretiniano através desta abertura, posicionado exatamente na área de maior perda fotorreceptora.


O cabo de conexão é tunelizado através da esclera até a região retroauricular, onde a unidade de controle é implantada em uma bolsa subcutânea.


Toda a manipulação cirúrgica exige precisão micrométrica para evitar danos às estruturas oculares adjacentes.


Ao final, realiza-se retinopexia com laser ou diatermia ao redor do chip para garantir adesão retiniana estável.


No pós-operatório imediato, o paciente permanece em posicionamento específico para favorecer a adesão retiniana.


O acompanhamento inicial é rigoroso, com avaliações frequentes para monitorar a cicatrização, detectar precocemente complicações e iniciar o processo de reabilitação visual.


Reabilitação e Adaptação à Nova Visão


A restauração funcional da visão não ocorre imediatamente após a cirurgia.


O cérebro necessita de um período de neuroadaptação para aprender a interpretar os novos sinais elétricos provenientes do implante. Este processo de reabilitação visual é fundamental para otimizar os resultados.


Nas primeiras semanas, o sistema é ativado gradualmente, com ajustes progressivos nos parâmetros de estimulação. Inicialmente, os pacientes percebem apenas flashes luminosos (fosfenos) quando o chip é ativado.


Com treinamento supervisionado, gradualmente começam a distinguir padrões, contornos e movimento.


Programas estruturados de reabilitação incluem exercícios específicos de localização de objetos, discriminação de formas geométricas simples, reconhecimento de letras grandes e treinamento de orientação espacial.


Tecnologias computadorizadas com softwares dedicados facilitam este aprendizado progressivo.


A maioria dos pacientes alcança estabilização da função visual entre três e seis meses após o implante.


Estudos demonstram que o treinamento contínuo pode resultar em melhorias adicionais mesmo após um ano, evidenciando a notável plasticidade do sistema nervoso central.


Resultados Clínicos e Impacto Funcional


Os estudos clínicos com implantes de retina têm demonstrado resultados encorajadores, embora ainda modestos se comparados à visão normal.


No estudo pivotal do Alpha AMS, aproximadamente 72% dos pacientes implantados apresentaram melhora mensurável da função visual.


As capacidades visuais restauradas incluem detecção e localização de objetos de alto contraste, identificação de portas e janelas em ambientes internos, reconhecimento de pessoas próximas pela silhueta, leitura de letras grandes em condições ótimas de iluminação e contraste, e melhora significativa na orientação e mobilidade.


Importante ressaltar que nenhum paciente recupera acuidade visual suficiente para atividades que exigem visão de detalhes, como leitura de texto em tamanho convencional ou reconhecimento facial detalhado.


Contudo, para indivíduos previamente com apenas percepção luminosa, mesmo ganhos modestos representam transformação substancial na independência e qualidade de vida.


Questionários de qualidade de vida aplicados em estudos clínicos revelam que a maioria dos pacientes relata maior autonomia para atividades domésticas, redução do risco de quedas e colisões, e significativa melhora no bem-estar psicológico e autoestima.


Complicações e Limitações da Tecnologia


Como qualquer intervenção cirúrgica intraocular complexa, o implante de chip de retina apresenta riscos potenciais.


As complicações cirúrgicas incluem hemorragia intraocular, descolamento de retina, hipertensão ocular, infecção endoftálmica e formação de membrana epirretiniana.


A taxa de complicações cirúrgicas graves nos estudos clínicos situa-se em torno de 10-15%.


Complicações relacionada especificamente ao dispositivo incluem deslocamento ou rotação do chip, falha eletrônica dos componentes, erosão conjuntival sobre o cabo transcutâneo e infecção no sítio da unidade subcutânea.


Alguns pacientes experimentam desconforto com a estimulação elétrica ou efeitos adversos como fosfenos não desejados.


As limitações tecnológicas atuais são significativas. A resolução espacial permanece muito inferior à visão natural, limitada pelo número de eletrodos.


A ausência de percepção cromática constitui outra limitação importante. O campo visual restaurado é restrito à área coberta pelo chip (aproximadamente 11 graus), muito menor que o campo visual normal.


Adicionalmente, a dependência de fonte externa de energia e a necessidade de manutenção técnica periódica representam desafios práticos.


Perspectivas Futuras e Desenvolvimentos em Andamento


A pesquisa em próteses retinianas avança rapidamente, com múltiplas tecnologias promissoras em desenvolvimento. Chips de maior densidade, com 10.000 ou mais eletrodos, estão sendo testados e prometem resolução visual significativamente superior.


Tecnologias totalmente sem fio, eliminando cabos transcutâneos e componentes externos, encontram-se em fase experimental.


Sistemas de transmissão de energia por radiofrequência ou indução magnética podem tornar os implantes completamente internos, reduzindo riscos de infecção e melhorando a estética e praticidade.


Estratégias de neuroestimulação mais sofisticadas, baseadas em inteligência artificial e processamento de imagem em tempo real, podem otimizar a qualidade da percepção visual.


Algoritmos que intensificam bordas, melhoram contrastes e filtram ruído visual estão sendo incorporados aos chips de nova geração.


A optogenética, técnica que utiliza terapia gênica para tornar células retinianas remanescentes sensíveis à luz, representa abordagem complementar ou alternativa aos implantes eletrônicos.


Estudos clínicos iniciais com optogenética demonstraram viabilidade e segurança, abrindo nova fronteira no tratamento da cegueira por doenças retinianas.


Considerações Finais


O implante de chip de retina representa avanço extraordinário na oftalmologia, transformando o que antes parecia ficção científica em realidade clínica.


Embora ainda longe de restaurar completamente a visão, oferece esperança tangível para pacientes com DMRI avançada e outras doenças retinianas degenerativas que resultam em cegueira irreversível.


A tecnologia atual proporciona benefícios funcionais reais, melhorando mobilidade, independência e qualidade de vida.


Os desenvolvimentos em andamento prometem aprimoramentos substanciais nos próximos anos, com potencial para expandir significativamente as indicações e os resultados desta terapia inovadora.


Para oftalmologistas, compreender esta tecnologia emergente é essencial para orientar adequadamente pacientes, identificar candidatos potenciais e integrar esta opção terapêutica ao arsenal de tratamentos disponíveis para doenças retinianas.


Para pacientes e familiares, representa mensagem de esperança fundamentada em ciência sólida e resultados clínicos concretos, sinalizando que mesmo nas formas mais avançadas de perda visual, novas possibilidades continuam surgindo no horizonte da medicina oftalmológica.

 
 
 

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