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"Moscas Volantes" e a Saúde da Nossa Visão: Entendendo Esses Fenômenos Oculares

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • há 24 minutos
  • 5 min de leitura



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Você já percebeu pequenos pontos, manchas ou filamentos que parecem flutuar no seu campo de visão, especialmente ao olhar para superfícies claras como o céu ou uma parede branca?


Esses fenômenos, popularmente conhecidos como "moscas volantes" ou "floaters", são experiências visuais bastante comuns que intrigam e, por vezes, preocupam muitos pacientes.


Neste artigo, vamos explorar a natureza dessas percepções visuais, sua relação com a estrutura ocular e o papel do sistema imunológico na saúde dos nossos olhos.


O Que São as "Moscas Volantes"?


As moscas volantes, tecnicamente denominadas miodesopsias, são pequenas sombras projetadas na retina por opacidades presentes no humor vítreo - a substância gelatinosa e transparente que preenche cerca de 80% do volume interno do globo ocular.


Essas opacidades podem assumir diferentes formas: pontos, círculos, linhas, teias de aranha ou nuvens que parecem se mover quando tentamos focalizá-las.


A Origem das Miodesopsias


A principal causa das moscas volantes está relacionada ao processo natural de envelhecimento do vítreo. Com o passar dos anos, essa estrutura gelatinosa sofre alterações em sua composição, tornando-se mais líquida em algumas áreas enquanto suas fibras de colágeno se agregam, formando pequenos aglomerados que se tornam visíveis.


Causas comuns incluem:


Degeneração vítrea relacionada à idade: processo natural que geralmente começa após os 50 anos, mas pode ocorrer mais cedo em pessoas míopes


Descolamento vítreo posterior: quando o vítreo se separa da retina, evento comum e geralmente benigno

Hemorragias vítreas: sangramento dentro do olho por diversas causas


Processos inflamatórios intraoculares: como uveítes e vitreítes


Alterações metabólicas: como no diabetes descompensado


A Anatomia do Sistema Vítreo-Retiniano


Para compreender melhor as moscas volantes, é essencial conhecer a estrutura ocular envolvida. O humor vítreo é composto por aproximadamente 99% de água, além de colágeno tipo II, ácido hialurônico e outras proteínas estruturais. Sua transparência é fundamental para que a luz atravesse o olho sem distorções até alcançar a retina.


A retina, por sua vez, é a camada neurossensorial responsável por captar os estímulos luminosos e convertê-los em impulsos nervosos que serão interpretados pelo cérebro.


Qualquer interferência no caminho óptico entre a córnea e a retina pode gerar sintomas visuais, incluindo as miodesopsias.


O Papel dos Glóbulos Brancos na Saúde Ocular


Os glóbulos brancos, ou leucócitos, desempenham um papel crucial na defesa imunológica de todo o organismo, incluindo os olhos.


O sistema ocular possui características imunológicas peculiares, conhecido como privilégio imunológico, que protege estruturas delicadas de respostas inflamatórias excessivas que poderiam comprometer a visão.


Mecanismos de Defesa Ocular


Barreiras anatômicas:


O olho possui barreiras hemato-oculares que regulam cuidadosamente a passagem de células e moléculas para seu interior. Essas barreiras incluem a barreira hemato-retiniana e hemato-aquosa, que protegem estruturas internas de processos inflamatórios sistêmicos.


Resposta imunológica local:


Quando ocorre uma infecção ou inflamação ocular, leucócitos podem migrar para o interior do olho. Na câmara anterior, isso se manifesta como células inflamatórias visíveis ao exame com lâmpada de fenda. No vítreo, a presença de células inflamatórias caracteriza a vitreíte, que pode causar moscas volantes e perda visual significativa.


Tipos de leucócitos envolvidos:


Dependendo da causa da inflamação, diferentes tipos celulares predominam. Neutrófilos estão presentes em infecções bacterianas agudas, enquanto linfócitos e macrófagos predominam em processos crônicos ou autoimunes.


Quando os Glóbulos Brancos Causam Problemas


Embora essenciais para a defesa, a presença excessiva de leucócitos no olho pode ser prejudicial:


Uveítes: inflamações da úvea (íris, corpo ciliar e coroide) que podem ter causas infecciosas, autoimunes ou idiopáticas. Os leucócitos infiltram estruturas oculares causando turvação visual, fotofobia e dor.


Vitreíte: quando leucócitos e células inflamatórias invadem a cavidade vítrea, causam opacidades significativas que se manifestam como moscas volantes intensas e perda da acuidade visual.


Endoftalmite: infecção grave do interior do olho, geralmente bacteriana ou fúngica, com intensa resposta leucocitária que pode levar à perda irreversível da visão se não tratada emergencialmente.


Diferenciando o Benigno do Patológico


A maioria das moscas volantes é benigna e não requer tratamento. Entretanto, certos sinais de alerta indicam a necessidade de avaliação oftalmológica imediata:


Sinais de alarme:


Aparecimento súbito de múltiplas moscas volantes

Flashes luminosos (fotopsias) associados

Perda de campo visual periférico (como uma "cortina" escurecendo parte da visão)

Diminuição súbita da acuidade visual


Dor ocular associada

Hiperemia (vermelhidão) ocular intensa


Esses sintomas podem indicar descolamento de retina, hemorragia vítrea, uveíte ou outras condições que exigem tratamento urgente.


Diagnóstico e Avaliação


A avaliação adequada das moscas volantes envolve:


Anamnese detalhada: investigação do início dos sintomas, características, fatores associados e história médica pregressa.


Exame oftalmológico completo:

incluindo avaliação da acuidade visual, biomicroscopia de segmento anterior, tonometria e, fundamentalmente, mapeamento de retina com dilatação pupilar.


Exames complementares:

ultrassonografia ocular, tomografia de coerência óptica (OCT) e angiografias podem ser necessários em casos específicos.


Investigação sistêmica:


em casos de inflamação intraocular, investigação de causas infecciosas e autoimunes pode ser necessária, incluindo exames laboratoriais e de imagem.


Opções de Tratamento


Para moscas volantes benignas, o manejo geralmente é conservador:


Observação: na maioria dos casos, o cérebro se adapta e as moscas volantes se tornam menos perceptíveis com o tempo.


Manobras oculares: movimentos suaves dos olhos podem deslocar temporariamente as opacidades do campo visual central.


Vitreólise com laser YAG: procedimento que fragmenta opacidades vítreas maiores, com resultados variáveis e riscos específicos.


Vitrectomia: cirurgia que remove o vítreo e suas opacidades, reservada para casos graves devido aos riscos cirúrgicos (catarata, descolamento de retina, infecção).


Para condições inflamatórias envolvendo resposta leucocitária anormal:


Corticosteroides: tópicos, perioculares ou intravítreos, controlam a inflamação ocular.


Imunossupressores sistêmicos: em uveítes crônicas ou autoimunes, medicações como metotrexato, azatioprina ou agentes biológicos podem ser necessários.


Antimicrobianos: antibióticos ou antifúngicos para casos infecciosos, por via tópica, sistêmica ou intravítrea conforme a gravidade.


Prevenção e Cuidados com a Saúde Ocular


Embora não seja possível prevenir completamente as alterações vítreas relacionadas à idade, algumas medidas contribuem para a saúde ocular:


Controle de doenças sistêmicas:

diabetes, hipertensão e doenças autoimunes bem controladas reduzem complicações oculares.


Proteção ocular: uso de óculos de proteção em atividades de risco previne traumas que podem causar hemorragias vítreas.


Exames oftalmológicos regulares: especialmente para pessoas míopes, diabéticas ou com história familiar de doenças retinianas.


Atenção a sintomas novos: procura imediata de atendimento oftalmológico diante de sinais de alerta.


Estilo de vida saudável: alimentação equilibrada rica em antioxidantes, não fumar e proteção solar adequada beneficiam a saúde ocular a longo prazo.


Conclusão


As "moscas volantes" são fenômenos visuais comuns que, na maioria das vezes, representam alterações benignas do envelhecimento vítreo.


Compreender sua natureza ajuda a reduzir ansiedades desnecessárias, mas também a reconhecer situações que exigem avaliação profissional urgente.


Os glóbulos brancos, por sua vez, exemplificam o delicado equilíbrio imunológico necessário para manter a saúde ocular. Essenciais para a defesa contra infecções, sua presença excessiva ou inadequada pode comprometer seriamente a visão, destacando a importância do privilégio imunológico ocular.

A mensagem fundamental é: embora a maioria das moscas volantes seja inofensiva, qualquer alteração súbita nos sintomas visuais merece avaliação oftalmológica especializada.


O diagnóstico precoce e o tratamento adequado de condições potencialmente graves podem fazer a diferença entre preservar e perder a visão.


Referências: Artigo baseado em conhecimentos consolidados em oftalmologia, incluindo literatura sobre anatomia ocular, imunologia ocular e manejo de doenças vítreo-retinianas.


Este artigo tem caráter informativo e não substitui consulta com profissional oftalmologista. Em caso de sintomas visuais novos ou preocupantes, procure atendimento médico especializado.



 
 
 

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