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Olhos Estrábicos: Como Acontece Essa Condição Ocular e Quais São os Tratamentos Recomendados por Especialistas

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • 2 de jun.
  • 6 min de leitura

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O estrabismo é uma condição oftalmológica caracterizada pelo desalinhamento dos olhos, afetando aproximadamente 4% da população mundial.


Esta revisão aborda os mecanismos fisiopatológicos do estrabismo, suas classificações, manifestações clínicas e as abordagens terapêuticas contemporâneas recomendadas por especialistas.


A compreensão adequada desta condição é fundamental para o diagnóstico precoce e tratamento eficaz, especialmente em pacientes pediátricos, onde o desenvolvimento do sistema visual ainda está em formação.


Contextualização


O estrabismo, popularmente conhecido como "olho torto" ou "vesguice", representa uma das condições oftalmológicas mais prevalentes na população infantil e adulta.


Caracteriza-se pela perda do paralelismo entre os eixos visuais, resultando em alterações significativas na função binocular e, consequentemente, na qualidade de vida dos pacientes.


Esta condição não se limita apenas a questões estéticas, mas envolve complexas alterações neurofisiológicas que podem comprometer permanentemente o desenvolvimento visual, especialmente quando não tratada adequadamente durante o período crítico de maturação do sistema visual.


Fisiopatologia do Estrabismo


Mecanismos de Controle Oculomotor


O alinhamento ocular adequado depende de um sofisticado sistema de controle neuromuscular que envolve múltiplos componentes anatômicos e funcionais. O sistema oculomotor é composto por seis músculos extraoculares em cada olho, inervados pelos nervos cranianos III (oculomotor), IV (troclear) e VI (abducente).


O controle da motilidade ocular é regulado por centros neurológicos superiores localizados no tronco cerebral, incluindo os núcleos dos nervos cranianos oculomotores, a formação reticular parapontina e o núcleo intersticial rostral do fascículo longitudinal medial. Estes centros integram informações visuais, vestibulares e proprioceptivas para manter o alinhamento ocular preciso.


Desenvolvimento da Visão Binocular


A visão binocular normal desenvolve-se durante os primeiros anos de vida através de um processo de maturação cortical. O córtex visual primário recebe inputs de ambos os olhos e desenvolve células que respondem de forma coordenada aos estímulos binoculares. Este processo requer alinhamento ocular adequado e estimulação visual equilibrada de ambos os olhos.


Quando há desalinhamento ocular, o cérebro recebe imagens conflitantes, levando a mecanismos adaptativos como a supressão cortical do olho não fixador. Esta adaptação, embora elimine a diplopia (visão dupla), pode resultar em ambliopia (olho preguiçoso) se não corrigida precocemente.


Classificação do Estrabismo


Classificação por Direção do Desvio


Esotropia (Convergente): O olho desviado direciona-se para dentro, em direção ao nariz. É a forma mais comum em crianças pequenas.


Exotropia (Divergente): O olho desviado direciona-se para fora, afastando-se do nariz. Mais frequente em crianças maiores e adultos.


Hipertropia: O olho desviado posiciona-se mais alto que o olho fixador.


Hipotropia: O olho desviado posiciona-se mais baixo que o olho fixador.


Classificação por Frequência


Estrabismo Constante: O desvio está sempre presente, independentemente da direção do olhar ou das condições de observação.


Estrabismo Intermitente: O desvio manifesta-se apenas em determinadas circunstâncias, como fadiga, estresse ou fixação em distâncias específicas.


Classificação por Idade de Início


Estrabismo Infantil: Manifesta-se antes dos 6 meses de idade, frequentemente associado a fatores neurológicos ou anatômicos.


Estrabismo Adquirido: Desenvolve-se após o estabelecimento inicial da visão binocular, podendo ter causas refrativas, paralíticas ou sensoriais.


Etiologia e Fatores de Risco


Fatores Genéticos


A predisposição genética desempenha papel significativo no desenvolvimento do estrabismo. Estudos epidemiológicos demonstram que filhos de pais estrábicos apresentam risco 10 vezes maior de desenvolver a condição. Múltiplos genes estão envolvidos, incluindo aqueles relacionados ao desenvolvimento dos músculos extraoculares e à formação das conexões neurais oculomotoras.


Fatores Refracionais


Erros refrativos significativos, especialmente hipermetropia, constituem importante fator etiológico para esotropia acomodativa. A necessidade excessiva de acomodação para obter imagem nítida pode desencadear convergência excessiva devido à sincinesia acomodação-convergência.


Fatores Neurológicos


Alterações no sistema nervoso central, incluindo paralisia cerebral, hidrocefalia, tumores cerebrais e traumatismos cranianos, podem resultar em estrabismo paralítico ou não-paralítico. Estes casos frequentemente apresentam prognóstico mais reservado devido às limitações neurológicas subjacentes.


Fatores Sensoriais


Condições que comprometem a acuidade visual de um olho, como catarata congênita, ptose severa, ou patologias retinianas, podem levar ao desenvolvimento de estrabismo sensorial devido à perda da estimulação visual binocular adequada.


Manifestações Clínicas e Diagnóstico


Sinais e Sintomas


As manifestações clínicas do estrabismo variam conforme a idade do paciente, tipo e magnitude do desvio. Em lactentes e crianças pequenas, os sinais incluem desvio ocular visível, movimento ocular anômalo, posição compensatória da cabeça e fechamento de um olho em ambientes iluminados.


Crianças maiores e adultos podem relatar diplopia, cefaleia, fadiga visual, dificuldade de concentração para atividades que exigem visão de perto e limitações na percepção de profundidade.


Avaliação Oftalmológica Especializada


O diagnóstico preciso do estrabismo requer avaliação oftalmológica completa, incluindo anamnese detalhada, exame da acuidade visual, avaliação da refração sob cicloplegia, e testes específicos de motilidade ocular.


Teste de Hirschberg: Avalia o alinhamento ocular através da observação do reflexo luminoso corneano, permitindo estimativa quantitativa do desvio.


Teste de Cobertura: Fundamental para detecção de desvios latentes (forias) e manifestos (tropias), bem como para quantificação da magnitude do desvio.


Teste de Cobertura Alternada: Permite avaliação da capacidade fusional e determinação do desvio total.


Medidas com Prismas: Quantificação precisa da magnitude do desvio utilizando prismas calibrados, essencial para planejamento cirúrgico.


Avaliação da Visão Binocular


A avaliação da função binocular inclui testes de estereopsia (percepção de profundidade), supressão cortical e correspondência retiniana. Estes exames são fundamentais para determinar o potencial de recuperação da visão binocular após tratamento.


Tratamentos Recomendados por Especialistas


Correção Óptica


A prescrição de óculos constitui frequentemente a primeira etapa do tratamento, especialmente em casos de estrabismo acomodativo associado a erros refracionais. A correção adequada da hipermetropia pode resultar em resolução completa ou parcial da esotropia em muitos pacientes.


Lentes bifocais ou progressivas podem ser indicadas em casos de esotropia parcialmente acomodativa, reduzindo a demanda acomodativa para visão próxima.


Tratamento da Ambliopia


O tratamento da ambliopia deve preceder ou acompanhar o tratamento do estrabismo. A oclusão do olho dominante (patch therapy) permanece o método mais eficaz, forçando o uso do olho amblíope e promovendo seu desenvolvimento visual.


Protocolos modernos incluem oclusão em tempo parcial, uso de filtros de densidade neutra e penalização óptica ou farmacológica, adaptados às necessidades individuais de cada paciente.


Terapia Ortóptica


Exercícios ortópticos específicos podem ser benéficos em casos selecionados, particularmente em pacientes com estrabismo intermitente ou insuficiência de convergência. Estes exercícios visam fortalecer a fusão binocular e melhorar o controle oculomotor.


A terapia visual computadorizada tem mostrado resultados promissores em alguns estudos, oferecendo abordagem mais interativa e motivadora, especialmente para pacientes pediátricos.


Tratamento Cirúrgico


A cirurgia de estrabismo está indicada quando métodos conservadores não conseguem alcançar alinhamento ocular adequado ou quando o desvio é muito significativo para responder ao tratamento clínico.


Princípios Cirúrgicos: O objetivo é reestabelecer o equilíbrio entre os músculos extraoculares através de procedimentos de enfraquecimento (recessão) ou fortalecimento (ressecção) dos músculos apropriados.


Técnicas Cirúrgicas Modernas: Incluem cirurgia de músculos retos, cirurgia de músculos oblíquos, transposições musculares e uso de suturas ajustáveis em pacientes cooperativos.


Cirurgia com Sutura Ajustável: Permite refinamento pós-operatório do alinhamento ocular, especialmente valiosa em casos complexos ou reoperações.


Tratamentos Adjuvantes


Toxina Botulínica: Indicada em casos selecionados de estrabismo paralítico agudo ou como alternativa à cirurgia em pacientes de alto risco cirúrgico. O efeito é temporário, mas pode proporcionar melhora significativa da posição ocular.


Prismas: Podem ser utilizados temporariamente para eliminar diplopia em adultos ou como teste terapêutico antes da cirurgia. Prismas de Fresnel oferecem solução prática e ajustável.


Prognóstico e Seguimento


O prognóstico do estrabismo depende fundamentalmente da idade de início, precocidade do tratamento e presença de ambliopia associada. Casos diagnosticados e tratados precocemente apresentam melhor potential de desenvolvimento da visão binocular normal.


O seguimento oftalmológico regular é essencial, pois o estrabismo pode apresentar características evolutivas, requerendo ajustes no tratamento ao longo do tempo. Avaliações semestrais ou anuais são recomendadas mesmo após sucesso terapêutico inicial.


Considerações Especiais


Estrabismo no Adulto


O estrabismo adquirido em adultos requer investigação etiológica mais ampla, incluindo avaliação neurológica quando indicada. O tratamento foca principalmente no alívio da diplopia e melhora da função ocular, uma vez que a visão binocular raramente pode ser restaurada completamente.


Aspectos Psicossociais


O impacto psicossocial do estrabismo não deve ser subestimado. Estudos demonstram que pacientes estrábicos podem apresentar baixa autoestima, dificuldades interpessoais e limitações profissionais. O tratamento adequado pode resultar em melhora significativa da qualidade de vida.


Conclusão


O estrabismo representa condição oftalmológica complexa que requer abordagem multidisciplinar especializada.


O sucesso terapêutico depende do diagnóstico precoce, caracterização adequada do tipo de desvio e implementação de protocolo de tratamento individualizado.


Os avanços recentes em técnicas cirúrgicas, métodos de avaliação e compreensão dos mecanismos fisiopatológicos têm proporcionado melhores resultados funcionais e estéticos.


A colaboração entre oftalmologistas, ortoptistas e outros profissionais de saúde é fundamental para otimização dos resultados terapêuticos.


O futuro do tratamento do estrabismo aponta para terapias mais personalizadas, incluindo abordagens genéticas e uso de tecnologias avançadas como realidade virtual para reabilitação visual. A pesquisa contínua nesta área promete benefícios adicionais para pacientes portadores desta condição.



 
 
 

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