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Realidade Virtual e Saúde Ocular: Compreendendo os Riscos e Implementando Medidas Preventivas

  • Foto do escritor: Alexandre Netto
    Alexandre Netto
  • 31 de jul.
  • 3 min de leitura

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A tecnologia de realidade virtual (VR) tem experimentado crescimento exponencial nos últimos anos, expandindo sua aplicação além do entretenimento para áreas como educação, medicina, treinamento profissional e reabilitação.


Contudo, o uso prolongado desses dispositivos levanta questões importantes sobre seus potenciais impactos na saúde ocular.


Como oftalmologistas, é fundamental compreendermos os riscos associados e orientarmos adequadamente nossos pacientes.


Mecanismos Fisiológicos da Visão em VR


Os dispositivos de realidade virtual funcionam apresentando imagens ligeiramente diferentes para cada olho, criando a percepção de profundidade através da estereoscopia.


As telas estão posicionadas a poucos centímetros dos olhos, exigindo que o sistema visual processe informações em uma distância focal fixa, enquanto o cérebro interpreta profundidades variáveis no ambiente virtual.


Esta configuração cria uma dissociação entre os mecanismos naturais de acomodação (ajuste do cristalino para focar objetos a diferentes distâncias) e vergência (movimento coordenado dos olhos para manter a fixação binocular), fenômeno conhecido como conflito acomodação-vergência.


Principais Riscos à Saúde Ocular


Síndrome da Visão Computacional (CVS)


O uso de VR intensifica os sintomas da CVS, incluindo:

- Fadiga visual: Resultado do esforço contínuo dos músculos ciliares e extraoculares

- Astenopia: Sensação de cansaço, peso ou dor ocular

- Cefaleia: Frequentemente localizada na região frontal e temporal


Alterações da Superfície Ocular


A imersão em ambientes virtuais reduz significativamente a frequência do piscar, resultando em:


- Olho seco: Diminuição da distribuição e qualidade do filme lacrimal

- Irritação conjuntival: Vermelhidão e sensação de corpo estranho

- Desconforto ocular: Ardor, coceira e fotofobia


Distúrbios da Motilidade Ocular


O uso prolongado pode desencadear:


- Espasmos dos músculos extraoculares: Contrações involuntárias causando desconforto

- Diplopia transitória: Visão dupla temporária devido ao desequilíbrio muscular

- Nistagmo induzido: Movimentos oculares involuntários e rítmicos


Disfunção Acomodativa


A exposição prolongada ao conflito acomodação-vergência pode resultar em:

- Espasmo acomodativo: Contração sustentada do músculo ciliar

- Insuficiência acomodativa: Redução temporária da capacidade de focar objetos próximos

- Visão borrada pós-uso: Dificuldade de adaptação visual ao mundo real


Populações de Risco


Determinados grupos apresentam maior susceptibilidade aos efeitos adversos:


Crianças e adolescentes: Sistema visual ainda em desenvolvimento, maior vulnerabilidade a estímulos visuais inadequados.


Usuários com ametropias não corrigidas: Miopia, hipermetropia ou astigmatismo podem exacerbar os sintomas.


Portadores de estrabismo ou ambliopia: Dificuldades preexistentes na fusão binocular aumentam o risco de desconforto.


Pacientes com síndrome do olho seco: Condição preexistente agravada pela redução do piscar.


Recomendações Preventivas


Regra 20-20-20 Adaptada para VR

A cada 20 minutos de uso, fazer uma pausa de 20 minutos, focalizando objetos a pelo menos 20 pés (6 metros) de distância.


Ajustes Técnicos


- Calibração adequada da distância interpupilar (IPD)

- Ajuste da nitidez e brilho das telas

- Utilização de dispositivos de qualidade com taxa de atualização adequada (mínimo 90Hz)


Higiene Visual


- Manter ambiente bem iluminado

- Piscar conscientemente durante o uso

- Utilizar lubrificantes oculares quando necessário


Limitação do Tempo de Uso


- Sessões iniciais não superiores a 15-30 minutos

- Incremento gradual conforme tolerância

- Evitar uso prolongado por mais de 2 horas consecutivas


Quando Buscar Orientação Oftalmológica


Pacientes devem procurar avaliação profissional na presença de:


- Sintomas persistentes após 24 horas do uso

- Diplopia que não resolve com o descanso

- Dor ocular intensa ou cefaleia severa

- Alterações significativas na acuidade visual

- Lacrimejamento excessivo ou secura ocular severa


Considerações para a Prática Clínica


Como oftalmologistas, devemos integrar questões sobre o uso de tecnologias VR em nossa anamnese rotineira.


A avaliação deve incluir:


- Histórico de uso de dispositivos VR

- Duração e frequência das sessões

- Sintomas associados ao uso

- Exame da motilidade ocular e função acomodativa

- Avaliação da superfície ocular


Conclusão


Embora a realidade virtual ofereça benefícios significativos em diversas aplicações, seu uso requer orientação adequada para minimizar riscos à saúde ocular.


A educação dos usuários sobre práticas seguras, combinada com o acompanhamento oftalmológico quando necessário, é fundamental para garantir uma experiência tecnológica benéfica e segura.


O desenvolvimento contínuo de diretrizes clínicas específicas para o uso de VR contribuirá para uma abordagem mais sistemática na prevenção e manejo das complicações oculares associadas a esta tecnologia emergente.



 
 
 

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